Sábado, 30 de junho de 2012
Maldito
Diário Idiota:
Nos últimos tempos andei analisando
minha antiga situação – antes de ser a vampira que sou hoje.
Eu era meio-sangue, depois me tornei
uma vampira plena. Mas no meio de tudo isso eu era uma humana problemática, com
sérias dificuldades sociais.
Basta ler o diário para perceber.
Eu tinha o talento de me “meter em
encrencas” o tempo todo, por ser fraca e irracional, me comportando como uma
idiota, correndo atrás do Caçador e gastando meu tempo com bobagens
desnecessárias.
Só faço essa observação porque todas
essas confusões que comecei no passado estão vindo a tona AGORA.
E isso é um saco.
Nas últimas semanas estive atarefada:
Michael me repreendeu várias vezes pela confusão no restaurante. Disse que eu
era uma besta selvagem sem noção, e que enquanto não me tornasse uma vampira
civilizada, iria ficar presa em casa, bebendo sangue dos roedores do sótão.
Ele não podia realmente me impedir de
sair se eu quisesse – não seria tão difícil acabar com ele.
Mas uma das coisas que Michael disse é
certa: se eu sair por aí dilacerando gargantas, os caçadores iriam ficar na
minha cola.
E, sozinha, eu não tinha muitas
chances contra eles.
Então era melhor que eu entrasse de
uma vez no mundo vampiresco e perfeccionista de Michael, me tornando uma
vampira aristocrata.
Isso não soa totalmente ridículo?
Vampiros devem se concentrar em
encurralar sua presa, não impressioná-la.
Quando disse isso a Michael, ele riu
de mim.
- Você é tão bonita quanto ignorante,
cara Stacy. Acha que se esconder em buracos e matar podem ser o suficiente para
alguém durante uma eternidade? Você pode até se contentar com isso por um ano
ou dois, mas jamais por séculos. Ou você aprende a caçar com estilo e se
divertir, para poder controlar os humanos, ou vai desejar virar cinzas ao sol
depois de cem anos no tédio. Sem contar que, se deixar registros das suas
caçadas, é você que será encurralada.
Assim tive que aprender a andar, falar,
sorrir e me vestir como uma “dama”. Michael me levava jornais para que eu
ficasse atualizada sobre o mundo, e até me ensinou a fingir que estava comendo
com um monte de talheres complicados.
Ele também me explicou que, na hora da
mordida, existiam pontos exatos, onde o sangue não jorrava demais e não fazia
tanta sujeira.
E eu passei dias e semanas
intermináveis dentro daquela casa bolorenta, somente sentindo o gosto dos
ratos...
E hoje, finalmente, escutei o que eu
tanto esperava ouvir.
- Vou te levar para jantar hoje,
querida – disse Michael, me entregando uma sacola com cheiro de roupas novas. –
Essa será sua chance de mostrar o quanto aprendeu. Não ouse me decepcionar.
Vamos a um restaurante francês altamente sofisticado.
Eu estava mais que pronta.
Quando escureceu, entramos em um carro
vermelho com um motor que rugia, e Michael dirigiu até o outro lado da cidade.
A sede de sangue implorava para que eu
agarrasse qualquer um na minha frente e o secasse, mas os olhares de alerta de
Michael me fizeram sorrir para todos ao meu redor.
Minha consciência se dividia em duas:
na primeira, eu era a dama em que Michael me transformara, desfilando entre as
mesas, sendo gentil e conversando com várias pessoas encantadas pela minha
cordialidade.
Na segunda, eu era uma fera
enlouquecida, ciente de cada coração batendo, a pulsação de cada pescoço presente
no restaurante, a proximidade e a facilidade em atacá-los...
Virei várias taças de champanhe,
vinho, conhaque... Tudo descia seco pela minha garganta.
Só uma
bebida poderia me satisfazer.
Michael estava sentado entre duas garotas
espalhafatosas, e haviam alguns caras ao meu redor. Eu falava com eles e eles
sorriam, mas eu já não sabia o que diziam.
Tanto tempo trancada naquela casa
escura, e ali tinha tantas cores, tantos cheiros... Eu iria explodir.
Um dos caras pegou no meu braço, e
mesmo chocada com o toque quente, não consegui olhar para ele. Aliás, olhei,
mas não o vi.
A sede me matava por dentro, e o
espalhafato me matava por fora. Talvez bebidas alcoólicas afetem um pouco
vampiros sedentos, não sei.
Algo me puxava, me afastando de tudo.
Agora eu via as estrelas, o céu
noturno, e os risos e conversas estavam mais baixos.
Foi então que senti um calor estranho
em contato com o meu corpo, e percebi que não estava me apoiando sobre minhas
próprias pernas.
Alguém havia me levado par fora do
restaurante, e me segurava no colo naquele mesmo momento.
Olhei para aquele rosto.
O Caçador.
- A senhorita está mesmo muito
refinada – disse ele, me colocando de pé. – Mas bebeu como um porco.
Me afastei, estreitando os olhos.
- Estou com fome.
Minhas presas formigavam.
Ele se aproximou.
- Que ótimo. Eu também estou com fome.
– Disse ele, sem emoção.
Eu não entendi o que ele queria dizer,
e também não queria pensar.
- Vem – pediu ele, subindo em uma moto
preta, parada em frente ao restaurante. – Vem comigo. John me emprestou a moto.
Talvez fosse a falta de sangue no meu
cérebro.
Ou o excesso de bebida no meu sangue.
Só sei que subi na garupa da moto, e
tudo em volta virou um borrão de luzes.
CONTINUA
adorei, quero muito ler o próximo capitulo.
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