Mascou
o mundo em um chiclete, xingou a todos mentalmente.
Em
volta, muitos a olhavam.
A senhora cheia de sacolas:
Mas que menina estúpida, tão boba e
insensata...
A
mulher de saltos altíssimos:
Olhe para a cor do cabelo dela: VERDE!
O
homem careca camuflado em jornais:
Nunca nunca nunca vai arrumar um
emprego descente com esse cabelo.
A
Garota de Cabelo Verde ia lendo os pensamentos deles, e os dela iam se
projetando no rosto, no olhar, nas mãos atrapalhadas segurando a mochila, nos
fios cor de floresta...
Todo mundo estava na porcaria do ônibus. Haviam pagado o mesmo valor abusivo pelo serviço de transporte público. Todos eram de classe média ou baixa. E
ao invés de cuidarem da droga de suas vidas, faziam questão de encará-la,
sujá-la com os olhares reprovadores, e toda aquela babaquice conservadora de sempre.
Que
mundo é esse?
Ela
era jovem, amava música e tinha belos cabelos verdes. Porque isso os incomodava
tanto?
Ela
ia à escola, se apaixonava, se ferrava, tinha momentos bons e ruins com os
pais, tinha amigos, dias incríveis e dias que eram um saco - era uma adolescente como
qualquer outra.
Só
que tinha cabelos verdes.
Todos
os dias, em todos os lugares, era sempre a mesma montanha de ignorância e reprovação.
Ela é tãaaaao estranha!
Nunca vai arrumar um namorado.
Ela é louca...
E
aquele turbilhão de frases no ar continuava, e a Garota de Cabelo Verde tinha
cada vez mais vontade de gritar, se partir ao meio, sumir pra sempre.
Deve ser punk.
Deve ter uma gang...
Deus que me livre.
Deve ter uma gang...
Deus que me livre.
Gente que faz isso só quer aparecer...
Ela só queria um pouco de PAZ!
É
só isso que eles tinham a pensar? Só isso? Julgá-la por uma escolha pessoal era o máximo que todas aquelas
mentes limitadas conseguiam fazer?
Hey, você é perfeita. Um diamante raro
e verde.
Ah,
aquele olhar.
Aquele
era diferente de todos os outros passageiros do ônibus. Das pessoas da rua.
Aquele olhar dizia o que ela queria ouvir.
A
Paz que ela tanto queria passou pela catraca do ônibus. Trazia um violão guardado no estojo, uma tatuagem no braço e cabelos escuros apontando para o
alto.
A
Garota de Cabelo Verde descolou o rosto do vidro da janela enquanto ele vinha
na direção dela e se sentava ao seu lado.
Ele
sorriu.
Ela também.
Ela também.
E, sem a necessidade de dizer nada, ela o beijou.
Todos
pararam de encarar.
Ficaram
envergonhados. Com inveja. Eram pessoas solitárias. Podiam criticar a Garota de
Cabelo Verde e o Tatuado enquanto estivessem sozinhos, mas não os dois juntos.
O
Tatuado ficou orgulhoso de si mesmo. Aquela garota incrível o estava beijando,
assim, do nada! Ninguém ia acreditar quando ele contasse...
E
ela?
Ah,
a Garota de Cabelo Verde estava apaixonada.
Não
pelo Tatuado, mas por ela mesma.
Dane-se todo o lixo das construções sociais.
Danem-se
os pensamentos injustos, os olhares pervertidos, as acusações não verbais.
Ela
era quem precisava ser. Tinha força. Tinha personalidade. E cabelos verdes.
A
Garota de Cabelo Verde ia mudar o mundo.
Simplesmente perfeito. Adorei!!!!
ResponderExcluirAdorei, o texto ficou perfeito, o novo visual do blog esta fantástico.
ResponderExcluirObrigada, Carla! ;)
ResponderExcluirminha filha tem lindos cabelos verdes. adorei a mensagem.
ResponderExcluirObrigada, Vera.
ExcluirCabelos coloridos são lindos. :)